quinta-feira, janeiro 24, 2008
Cinco anos sem Sabotage (24/01/2003)
Texto meu publicado na edição deste mês da revista O DILÚVIO em memória ao grande Sabote. Os cinco primeiros comentários ganham na faixa uma edição impressa da revista. Comentem e deixem o email pra contato. Paz e respeito!
Cabeça de nêgo
Como se a benção da inspiração tivesse confundido o Brooklyn de Nova Iorque com o seu xará mais pobre, o Brooklyn de São Paulo, nasceu Mauro Mateus dos Santos. Preto, pobre e inspirado, porque pobre se não tiver inspiração não se cria. É sério, vai pensando que é fácil sorrir morando no Canão, na beira da água espraiada, onde “só falta água e quando chove alaga”. Aliás só quem ri da espraiada em São Paulo é o Maluf, lembrando da obra superfaturada em R$ 432 milhões. Mas voltando pro Mauro, foi daqueles que cresceu como todos ali, convivendo com “a música, o crime e o futebol”. E ele fez suas opções aqui e ali, juntou todas dando mais espaço hora pro samba, hora pro Corinthians, hora pro crime. Foi no crime que passou parte da infância, levando o respeito na cintura. Foi pro crime que perdeu o irmão que sempre citava nas letras. Foi ali que conheceu o rap, ainda no tempo da São Bento, participou do festival onde influenciou Pedro Paulo Soares da Silva a cantar rap, o mesmo Pedro que ia virar Mano Brown. No crime foi rebatizado, falsificando a assinatura da mãe na Febem ganhou do irmão o apelido que levou pra vida: Sabotage! E foi sabotando o que estava previsto que o mano driblou a vida, largou o crime, gravou o disco “O Rap é Compromisso” pela gravadora do Pedro Paulo, a Cosa Nostra, com ele foi eleito artista revelação do ano no prêmio Hutuz de 2002 (dez anos depois de começar a cantar rap), fez participações em tantos discos que nem lembrava mais, fez parte da trilha sonora e o papel dele mesmo no filme “O Invasor”, ensinou gíria pro elenco e beijou a bunda da Rita Cadilac no filme Carandiru e ainda mudou a cara do rap nacional indo pela contramão. Quando o rap se tornava cada vez mais sissudo e fechado, Sabote sorria seu sorriso sem dentes, cantarolava um samba antigo que dizia: “Se eu parar pra cantar tristeza meu tempo aqui não chega...”. Pra quem esperava o mito do rapper mau Sabote se mostrava simplesmente o “Maurinho do Canão”, preto, pobre, inspirado, falando sobre a vontade de subir no palco vestido de terno e gravata, só pra surpreender os que pensam que rap é roupa.
Assim como Chico Science foi o elo de ligação entre a lama e o mundo, o regional e o global, Sabotage foi o elo de ligação entre as várias correntes do rap, unia o discurso da favela com a levada do asfalto. Com ele o rap paulista ficou mais malandro, valorizou o jogo de palavras no verso, fez rap samba com o Instituto sem parecer imitação do Dr. Marcelo, mostrando que se pode falar de mulher em rap com todo respeito e poesia, afinal “todo malandro vira otário quando ama”. Às vezes nem precisava falar muita coisa, só citar o nome dos parceiros no verso, os presentes e ausentes, como ele mesmo dizia só pra falar que “se o crime fosse tudo isso esse pessoal todo ainda tava aqui”. Uma vez falou pro Napoli que se via no som do outro Chico, o Buarque, onde o cidadão morreu na contramão atrapalhando o sábado. Sabote viveu na contramão, da sociedade enquanto estava no crime e na contramão da onda de separações e brigas quando estava no rap, mas morreu em uma sexta-feira, 24/01/2003 na mesma mão que muitos outros pretos e pobres do país, baleado, uma morte sem inspiração se é que existe inspiração na morte. O elo foi perdido. O assassino? Não foi localizado, a mídia tratou como só mais um caso, a polícia tratou como a mídia. Uns dizem que um antigo desafeto matou Sabote, outros dizem que foi a inveja do seu sucesso. De repente foi o destino, que pisa na tentativa da mudança de caminhos escritos, e na coragem de se falar em construir um bom lugar morando no gueto do gueto. Sabote falou que as “estrelas nascem crescem evoluem e morrem”. Mas ele vive na memória daqueles que conheceram, ouviram e adotaram o rap como compromisso. Se bobear o Maurinho tá por aí, aparece volta e meia no verso de um, na gíria de outro, no alto falante de um carro, no toca-disco de algum outro preto, pobre e inspirado, talvez no Canão, no Brooklyn, na Santo Afonso, no Boréu, Alvorada, Alto Zé do Pinho, Vila Jardim...
Miguel RMS é MC e ainda acredita que é com humildade que se faz um bom lugar.
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14 comentários:
Du caralho... esse cara faz muita falta pro RAP Nacional... fico pensando nas novas letras e rimas que perdemos junto com o cara... coisa boa, coisa da favela, coisa do gueto, coisa de pobre.
Abraço.
se ainda der tempo.. esqueci de colocar o meu email.
arnsoares@gmail.com
falow
mandou bem no texto, o sabota realmente faz falta hoje e vai continuar fazendo, não só pro rap, mas pra música brasileira no geral. Ainda bem que deixou um legado FODA.
Abraço
Caraio,eu coleciono tudo que é do Sabotage.
Pra mim o melhor rapper nacional,um verdadeiro MC.
Sabotage continua vivo nas lembranças,na ideologia,no rap,na tv,
no radio,nas matérias que volta e meia sao feitas sobre ele e relembrando seu passado.
Mas é isso aí,mesmo o texto da revista tendo erros sobre o Sabotage,nos faz lembrar mais uma vez sobre o Mestrão do Canão.!
Paz e salve Sabotage!
Vermelho.Sangue@hotmail.com
Muito foda o texto. Homenagem prestada!
Saudades...
goodnwz@gmail.com
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Muito firmeza a homenagem...
Sempre me vejo pensando nas músicas que ele teria feito se não tivesse ido ao encontro de Deus...
Foda!
Mandou muito bem no texto! Bagulho de emocionar mesmo! Ele merece!
Inspiração não só pro rap mas pra todo o povo pobre!
Não sei se ainda dá tempo mas vai aê:
nandoskaterock@hotmail.com
Viva sabotage!!!
Pra quem aconpanhou a tragetória desse cara é muito foda ler esse texto, bate uma saudade, aperta o peito, mais representou muito bem!
Bia.
Viva sabotage!!!
Pra quem aconpanhou a tragetória desse cara é muito foda ler esse texto, bate uma saudade, aperta o peito, mais representou muito bem!
Bia.
ae irmão.. da lecença aqui.. mas tem uma fita errada nessa sua citação.. o saudoso Sabota mestre do canão.. era gaviões irmão..
'sou gavião fiel de origem louco'
'nada bobo, não brigo pelo jogo..'
não era santos fc não certo.
paz a todos.
e só pra transparece eu so mancha hamas.. só que tinha que da a letra certa.
fmz satisfação.
Totalmente certo parceiro, vacilo feio mesmo! Tá consertado no testo! Paz!
ta loco kra sempre fui mais do sabotage du que ''Racionais''
sabotage pra min nao morreu mais durmio por causa de seu sucesso
o cara vez mais fãns du qui qualquer 1 rapper B. em pouco tempo
''ate que fatalidades acontecem
é o seguinte sempre assim''
ele cantava o fim e cantou a realidade ;}
saudade do kra
Sabotage pra sempre truta !
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