quarta-feira, novembro 28, 2007

Roots Manuva



Roots Manuva - Run comes save me

1.No Strings (intro)
2.Bashment Boogie
3.Witness (1 Hope)
4.Join The Dots
5.Black Box interlude 22s only sold in album
6.Ital Visions
7.Kicking The Cack
8.Dub Styles
9.Trim Body
10.Artical
11.Hol' It Up
12.Stone The Crows
13.Sinny Sin Sins
14.Evil Rabbit
15.Swords In The Dirt
16.Highest Grade
17.Dreamy Days

Para baixar clique aqui.

Ganhei esse disco de presente da Vivi, uma amiga que foi pra Londres em 2005. Pedi pra ela procurar alguma coisa de rap por lá e por coincidência trouxe esse disco que tem a Witnes, que eu tinha gravada em uma fita há um tempão, desde a época em que se gravava rap de programa de rádio. Na real nem faz tanto tempo, mas a tecnologia evolui tão rápido que 2001 já parece faz 10 anos. Falando nisso, o pessoal que frequenta o blog e anda pela faixa dos 30 já se deu conta que é a última geração a ter andado com um walkman no bolso, a gravar fitas k7 (lembram da Sony UX, aquela da embalagem dourada?) e mais uma pá de coisa que a gurizada mais nova não vai mais ver. Buenas, voltando ao som, essa mesma Witness é o maior sucesso comercial do rap inglês em todos os tempos, o disco foi gravado pela gravadora Big Dada, figura da cena eletrônica, por isso os beats tem uma pegada bem sintética, o que faz um jogo bem diferente com a levada meio ragga de Manuva. Só a dreamy Days já vale o disco. Aproveitem.



Roots Manuva - Witness



Roots Manuva - Dreamy Days

sexta-feira, novembro 02, 2007

Tropa de elite / Cidade de Deus

A trupe da elite reacionária!!!

Assisti a febre Tropa de Elite, gostei do filme, parada bem feita. Acompanhei a discussão e cheguei a triste conclusão que o Brasil tá mesmo dividido na base do cada um por si. Os comentários da VEJA sobre o filme são na linha "tem que tratar bandido como bandido mesmo", ou seja remédio pra pobre que deixa o sangue correr pro asfalto é mesmo pé na porta, saco na cabeça e bala na testa. Eita país filho da puta. Quando o Estado chega a conclusão que não tem remédio a não ser subir o morro e matar uma parte "podre" da população é porque o própio governo perdeu as rédeas. Pra quem concorda com essa visão eu só aconselho a olhar as notícias de bala perdida e até as imagens da bala comendo ao lado de gente varrendo a calçada ou de criança indo pro colégio pra ver que a intervenção não é tão cirúrgica quanto o filme faz pensar. Se a coisa é cada um por si eu fico com os meus. Periferias do Brasil, uni-vos! Antes que seja tarde! O inimigo quer sangue e a arma tá apontada...

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Ainda sobre o Tropa de Elite: Rodapé de jornal diz que o filme quebrou recordes de público no cinema, "mas poderia ter feito muito mais sem a pirataria". Porra, parte da divulgação da coisa aconteceu pela malandragem em liberar a pirataria. Um passo inteligente é aprender a lidar com a pirataria e não continuar negando a parada. Vão tomar o mesmo rumo que os EUA com o mp3? Fuderam o napster e o mp3 segue cada vez mais forte. Enquanto a indústria segue tentando travar a tecnologia, a tecnologia dá um drible e corre na frente. O momento é do mais malandro. Quem marcar passo negando a realidade vai cair. Eu que estou falando, mas quem mostra é a rua.

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Cidade de Deus (Trilha sonora)

01. Meu Nome é Zé - Antonio Pinto - Ed Côrtes
02. Vida de Otário - Antonio Pinto - Ed Côrtes
03. Funk da Virada - Antonio Pinto - Ed Côrtes
04. Estória da Boca - Antonio Pinto - Ed Côrtes
05. Na Rua, na Chuva, na Fazenda (casinha de Sapê) - Hyldon
06. A Transa - Antonio Pinto - Ed Côrtes
07. Metamorfose Ambulante - Raul Seixas
08. Nem Vem que Não Tem - Wilson Simonal
09. Preciso Me Encontrar - Cartola
10. Alvorada - Cartola
11. Convite para Vida - Antonio Pinto - Ed Côrtes
12. No Caminho do Bem - Tim Maia
13. Morte Zé Pequeno - Antonio Pinto - Ed Côrtes
14. Batucada (remix) - Dj Yah!

Para baixar clique aqui.

De qualquer jeito meu filme nacional preferido ainda é o Cidade de Deus, por coincidência li um livro chamado "A máquina e a revolta" da antropóloga Alba Zaluar sobre uma pesquisa da relação bandido & trabalhadores pobres na CDD feito na década de 80. Segue aí o trecho que conta um pouco sobre a rixa entre Mané Galinha e Zé Pequeno:

"Ontem mais dois tombaram em Cidade de Deus. Um terceiro conseguiu escapar. Uma das vítimas tombou num posto de gasolina; a outra, de 14 anos, foi encontrada no matagal, sendo identificada pela irmã. Guerra: as duas quadrilhas de traficantes de tóxicos e assaltantes se 'guerreando' pela supremacia da área. Vítimas: Gelson Machado da Silva (18 anos, Rua Saad, q. 92, c. 51) era irmão do bandido Manoel Machado da Rocha, o "Manoel Galinha", que estaria escondido em Minas Gerais. Forra: Os amigos.de Gelson, já sabedores dos nomes dos bandidos, incendiaram o barraco nº 13, rua Gesse, residência dos familiares de Bingo, e o barraco nº 60, av. Deborah, residên¬cia dos familiares de Delley." (O Dia, 14.8.79.) "Tombou o chefão na batalha final. Silêncio e Pavor em Cidade de Deus." (Manchete) "A briga entre quadrilhas de Cidade de Deus pelo domínio dos pontos de vendas de tóxicos fez uma vitima fatal, o chefe de um dos bandos, o 'Mane Galinha', morreu com vários tiros no Hospital Cardoso Fontes. O delegado José Guedes, da 32f D.P., apurou que ele foi alvejado por elementos da turma do Zé Pequeno há três anos seu grande rival. (...)
Delegado lamenta: O delegado José Guedes, que foi ao local interrogar pessoas, saiu no final com uma queixa: 'Infelizmente, quando ocorrem crimes como esse, o povo fica num silêncio tremendo. É claro que entendemos que, numa comunidade onde existem marginais, a chamada lei do silêncio nunca acabará. Mas os cidadãos de boa formação, honestos, têm que colaborar com a policia, apontando não só os bandi¬dos mas acima de tudo os locais em que se reúnem...' História triste: A crónica policial está cheia de histórias como a de Manoel Machado da Rocha, de 20 anos, o Mane Gali¬nha. Em 1976, conforme relatam parentes e conhecidos, Manoel era um rapaz pacato. Seu grande negócio era o que chamava de "as menininhas", garotas que por ele ficavam apaixonadas ao primeiro olhar. Afinal, moreno claro, de olhos verdes, jeito bem carioca de andar e falar, Manoel as deixava sideradas.
O sucesso de Manoel com as meninhas causou tremenda inve¬ja a Zé Pequeno e seus comparsas, que não perdiam oportuni¬dades para provocá-lo. Um dia, Manoel estava num recanto de Cidade de Deus com uma linda garota, numa conversa sadia, quando surgiram seus invejosos adversários: além de tirarem toda sua roupa, levaram a garota que estava com ele. Revoltado, Manoel juntou-se a seus irmãos Gilson e Gelson, , Ailton Batata e mais uns 8 elementos que estavam dispostos a ajudá-lo na verdadeira guerra contra Zé Pequeno e seus com¬parsas. A partir dali, sumiu o pacato Manoel M. Rocha e surgiu o Mane Galinha. (...)
Durante estes três anos de lutas, perto de 15 marginais mor¬reram e dezenas de pessoas ficaram feridas..." (O Dia, 31.8.79.)

Quando cheguei a Cidade de Deus, Manoel Galinha, a quem todos já se referiam como o "falecido", era lamentado e lembrado na praça Matusalém, onde concentrei a pesquisa. Sua família era grande e bem conhecida na vizinhança, onde, moravam alguns parentes, comadres e compadres, além dos muitos amigos de Manoel. Seu pai, operário "crente", músi¬co na igreja da Assembleia de Deus e nos cultos dominicais da praça, sua mãe e oito irmãos moravam na casa que ainda tinha as marcas da "guerra". Enquanto esta durou, a casa da família foi atacada várias vezes, quando morreram o avô e o irmão de Manoel, sendo defendida então pelas preces de todos os seus membros.2 A praça Matusalém transformava-se num campo de batalha nessas ocasiões. Foi nesta mesma pra¬ça que, após a morte de Manoel, em janeiro de 1980, os mo¬radores da vizinhança fundaram o bloco Luar de Prata com o objetivo explícito de acabar com a tristeza e "elevar o nome do local" difamado como o mais perigoso de Cidade de Deus e referido como a "área do Mane Galinha". Apesar do estig¬ma que trouxera ao local, muito querido, Manoel ganhou um samba e várias estórias sobre a sua valentia, beleza e simpa¬tia. Transformado em ficção, mas participando da realidade, ele representou um desafio ao rótulo deste novo personagem complexo e ambíguo que tentam entender: o "bandido".Como trabalhador (foi operário da indústria de construção civil) e como bom filho (sempre ajudou a família), Manoel estava próximo ao seu modelo de dignidade moral. Bom jogador de futebol e sambista ocasional, ele diferia de outros "bandidos" por participar ativamente das atividades locais. Sua rápida trajetória para o mundo do tráfico de drogas e das armas de fogo, que um jovem denominou "condomínio do diabo", os confundia. Tentavam explicá-la por uma estória que não diferia muito da publicada no jornal no que dizia respeito aos motivos que o levaram a "revoltar", isto é, a colocar uma arma na cintura e entrar na "guerra". Mas vários deles, como seus familiares, negavam-se a admitir suas ligações com traficantes. Para estes, Manoel, como outros "bandidos", estava muito mais próximo de um outro modelo surgido no seu meio: o injustiçado, o "revoltado", o morto de vida trágica e morte sem sentido. Os versos que se seguem, de autoria de um dos compositores do bloco, foram escritos por ocasião de sua morte:

"Morreu na chegada do hospital
Um camarada que foi tão legal
Agora 'Dade Deus' ainda chora
O camarada de outrora. '
Morreu, foi pró reino da glória Está sentado junto de Nossa Senhora O povo o queria de coração E a sociedade o acusava de bandidão.
Não sou bandido
E posso provar
Defendo a área
'Dade Deus', o meu lugar.
O morro inteiro pediu Pra ele se mudar, Mas ele disse: Jamais vou recuar.
Aqui nasci, meu povo,
E aqui eu me criei.;
Eu sou Manoel,
Eu jamais recuarei.
Vá, mãezinha, a essa redação E diga prà eles O filhinho da senhora Não é um chefão.
No campo santo a multidão Dando um adeus final, Eles diziam: Manuel, Ele não era um marginal...".
(Augusto, setembro 1979)

Seu enterro foi um acontecimento, mobili¬zando os moradores que conseguiram, através de um político, ônibus para levá-los ao cemitério. Durante muito tempo a área em que morava era conhecida como a "vila do Mane Galinha". Hoje, essa referência ainda compete com a fama crescente do bloco Luar de Prata. Mesmo depois que seus pais deixaram o local, após o assassinato de seu terceiro filho, Manoel continuou a ser lembrado.