A trupe da elite reacionária!!!
Assisti a febre Tropa de Elite, gostei do filme, parada bem feita. Acompanhei a discussão e cheguei a triste conclusão que o Brasil tá mesmo dividido na base do cada um por si. Os comentários da VEJA sobre o filme são na linha "tem que tratar bandido como bandido mesmo", ou seja remédio pra pobre que deixa o sangue correr pro asfalto é mesmo pé na porta, saco na cabeça e bala na testa. Eita país filho da puta. Quando o Estado chega a conclusão que não tem remédio a não ser subir o morro e matar uma parte "podre" da população é porque o própio governo perdeu as rédeas. Pra quem concorda com essa visão eu só aconselho a olhar as notícias de bala perdida e até as imagens da bala comendo ao lado de gente varrendo a calçada ou de criança indo pro colégio pra ver que a intervenção não é tão cirúrgica quanto o filme faz pensar. Se a coisa é cada um por si eu fico com os meus. Periferias do Brasil, uni-vos! Antes que seja tarde! O inimigo quer sangue e a arma tá apontada...
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Ainda sobre o Tropa de Elite: Rodapé de jornal diz que o filme quebrou recordes de público no cinema, "mas poderia ter feito muito mais sem a pirataria". Porra, parte da divulgação da coisa aconteceu pela malandragem em liberar a pirataria. Um passo inteligente é aprender a lidar com a pirataria e não continuar negando a parada. Vão tomar o mesmo rumo que os EUA com o mp3? Fuderam o napster e o mp3 segue cada vez mais forte. Enquanto a indústria segue tentando travar a tecnologia, a tecnologia dá um drible e corre na frente. O momento é do mais malandro. Quem marcar passo negando a realidade vai cair. Eu que estou falando, mas quem mostra é a rua.
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Cidade de Deus (Trilha sonora)
01. Meu Nome é Zé - Antonio Pinto - Ed Côrtes
02. Vida de Otário - Antonio Pinto - Ed Côrtes
03. Funk da Virada - Antonio Pinto - Ed Côrtes
04. Estória da Boca - Antonio Pinto - Ed Côrtes
05. Na Rua, na Chuva, na Fazenda (casinha de Sapê) - Hyldon
06. A Transa - Antonio Pinto - Ed Côrtes
07. Metamorfose Ambulante - Raul Seixas
08. Nem Vem que Não Tem - Wilson Simonal
09. Preciso Me Encontrar - Cartola
10. Alvorada - Cartola
11. Convite para Vida - Antonio Pinto - Ed Côrtes
12. No Caminho do Bem - Tim Maia
13. Morte Zé Pequeno - Antonio Pinto - Ed Côrtes
14. Batucada (remix) - Dj Yah!
Para baixar clique aqui.
De qualquer jeito meu filme nacional preferido ainda é o Cidade de Deus, por coincidência li um livro chamado "A máquina e a revolta" da antropóloga Alba Zaluar sobre uma pesquisa da relação bandido & trabalhadores pobres na CDD feito na década de 80. Segue aí o trecho que conta um pouco sobre a rixa entre Mané Galinha e Zé Pequeno:
"Ontem mais dois tombaram em Cidade de Deus. Um terceiro conseguiu escapar. Uma das vítimas tombou num posto de gasolina; a outra, de 14 anos, foi encontrada no matagal, sendo identificada pela irmã. Guerra: as duas quadrilhas de traficantes de tóxicos e assaltantes se 'guerreando' pela supremacia da área. Vítimas: Gelson Machado da Silva (18 anos, Rua Saad, q. 92, c. 51) era irmão do bandido Manoel Machado da Rocha, o "Manoel Galinha", que estaria escondido em Minas Gerais. Forra: Os amigos.de Gelson, já sabedores dos nomes dos bandidos, incendiaram o barraco nº 13, rua Gesse, residência dos familiares de Bingo, e o barraco nº 60, av. Deborah, residên¬cia dos familiares de Delley." (O Dia, 14.8.79.) "Tombou o chefão na batalha final. Silêncio e Pavor em Cidade de Deus." (Manchete) "A briga entre quadrilhas de Cidade de Deus pelo domínio dos pontos de vendas de tóxicos fez uma vitima fatal, o chefe de um dos bandos, o 'Mane Galinha', morreu com vários tiros no Hospital Cardoso Fontes. O delegado José Guedes, da 32f D.P., apurou que ele foi alvejado por elementos da turma do Zé Pequeno há três anos seu grande rival. (...)
Delegado lamenta: O delegado José Guedes, que foi ao local interrogar pessoas, saiu no final com uma queixa: 'Infelizmente, quando ocorrem crimes como esse, o povo fica num silêncio tremendo. É claro que entendemos que, numa comunidade onde existem marginais, a chamada lei do silêncio nunca acabará. Mas os cidadãos de boa formação, honestos, têm que colaborar com a policia, apontando não só os bandi¬dos mas acima de tudo os locais em que se reúnem...' História triste: A crónica policial está cheia de histórias como a de Manoel Machado da Rocha, de 20 anos, o Mane Gali¬nha. Em 1976, conforme relatam parentes e conhecidos, Manoel era um rapaz pacato. Seu grande negócio era o que chamava de "as menininhas", garotas que por ele ficavam apaixonadas ao primeiro olhar. Afinal, moreno claro, de olhos verdes, jeito bem carioca de andar e falar, Manoel as deixava sideradas.
O sucesso de Manoel com as meninhas causou tremenda inve¬ja a Zé Pequeno e seus comparsas, que não perdiam oportuni¬dades para provocá-lo. Um dia, Manoel estava num recanto de Cidade de Deus com uma linda garota, numa conversa sadia, quando surgiram seus invejosos adversários: além de tirarem toda sua roupa, levaram a garota que estava com ele. Revoltado, Manoel juntou-se a seus irmãos Gilson e Gelson, , Ailton Batata e mais uns 8 elementos que estavam dispostos a ajudá-lo na verdadeira guerra contra Zé Pequeno e seus com¬parsas. A partir dali, sumiu o pacato Manoel M. Rocha e surgiu o Mane Galinha. (...)
Durante estes três anos de lutas, perto de 15 marginais mor¬reram e dezenas de pessoas ficaram feridas..." (O Dia, 31.8.79.)
Quando cheguei a Cidade de Deus, Manoel Galinha, a quem todos já se referiam como o "falecido", era lamentado e lembrado na praça Matusalém, onde concentrei a pesquisa. Sua família era grande e bem conhecida na vizinhança, onde, moravam alguns parentes, comadres e compadres, além dos muitos amigos de Manoel. Seu pai, operário "crente", músi¬co na igreja da Assembleia de Deus e nos cultos dominicais da praça, sua mãe e oito irmãos moravam na casa que ainda tinha as marcas da "guerra". Enquanto esta durou, a casa da família foi atacada várias vezes, quando morreram o avô e o irmão de Manoel, sendo defendida então pelas preces de todos os seus membros.2 A praça Matusalém transformava-se num campo de batalha nessas ocasiões. Foi nesta mesma pra¬ça que, após a morte de Manoel, em janeiro de 1980, os mo¬radores da vizinhança fundaram o bloco Luar de Prata com o objetivo explícito de acabar com a tristeza e "elevar o nome do local" difamado como o mais perigoso de Cidade de Deus e referido como a "área do Mane Galinha". Apesar do estig¬ma que trouxera ao local, muito querido, Manoel ganhou um samba e várias estórias sobre a sua valentia, beleza e simpa¬tia. Transformado em ficção, mas participando da realidade, ele representou um desafio ao rótulo deste novo personagem complexo e ambíguo que tentam entender: o "bandido".Como trabalhador (foi operário da indústria de construção civil) e como bom filho (sempre ajudou a família), Manoel estava próximo ao seu modelo de dignidade moral. Bom jogador de futebol e sambista ocasional, ele diferia de outros "bandidos" por participar ativamente das atividades locais. Sua rápida trajetória para o mundo do tráfico de drogas e das armas de fogo, que um jovem denominou "condomínio do diabo", os confundia. Tentavam explicá-la por uma estória que não diferia muito da publicada no jornal no que dizia respeito aos motivos que o levaram a "revoltar", isto é, a colocar uma arma na cintura e entrar na "guerra". Mas vários deles, como seus familiares, negavam-se a admitir suas ligações com traficantes. Para estes, Manoel, como outros "bandidos", estava muito mais próximo de um outro modelo surgido no seu meio: o injustiçado, o "revoltado", o morto de vida trágica e morte sem sentido. Os versos que se seguem, de autoria de um dos compositores do bloco, foram escritos por ocasião de sua morte:
"Morreu na chegada do hospital
Um camarada que foi tão legal
Agora 'Dade Deus' ainda chora
O camarada de outrora. '
Morreu, foi pró reino da glória Está sentado junto de Nossa Senhora O povo o queria de coração E a sociedade o acusava de bandidão.
Não sou bandido
E posso provar
Defendo a área
'Dade Deus', o meu lugar.
O morro inteiro pediu Pra ele se mudar, Mas ele disse: Jamais vou recuar.
Aqui nasci, meu povo,
E aqui eu me criei.;
Eu sou Manoel,
Eu jamais recuarei.
Vá, mãezinha, a essa redação E diga prà eles O filhinho da senhora Não é um chefão.
No campo santo a multidão Dando um adeus final, Eles diziam: Manuel, Ele não era um marginal...".
(Augusto, setembro 1979)
Seu enterro foi um acontecimento, mobili¬zando os moradores que conseguiram, através de um político, ônibus para levá-los ao cemitério. Durante muito tempo a área em que morava era conhecida como a "vila do Mane Galinha". Hoje, essa referência ainda compete com a fama crescente do bloco Luar de Prata. Mesmo depois que seus pais deixaram o local, após o assassinato de seu terceiro filho, Manoel continuou a ser lembrado.
sexta-feira, novembro 02, 2007
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