segunda-feira, novembro 20, 2006

Axé!

310 ANOS E AINDA LUTANDO...


Ontem falei pra um motorista lá do serviço que hoje é o Dia da Consciência Negra, e o cara respondeu na mesma hora: "- E lá precisa disso? Então os negros não tem consciência todo o ano?". Bom, aí tive que explicar pro cidadão que é um dia que deve ser lembrado por todos, mas principalmente pelos negros, pois fala da consciência de que a nossa liberdade não foi dada como fala o antigo 13 de maio, mas foi conquistada por gente como Zumbi e os moradores do Quilombo dos Palmares (onde havia negros, brancos e índios), e pra gente não esquecer que ainda temos muito a conquistar. Agradeço ao rap e a capoeira por terem me ensinado essas coisas e me dado orgulho de ser negro, ensinando o que a escola não conseguiu me ensinar. Que a gente consiga espalhar a mensagem pra que no futuro perguntas como a do motorista não se repitam, e que todos tenham conhecimento do que Palmares representou não só para os negros, mas para todos aqueles que um dia lutaram contra um sistema vampiro e opressor. O Hip Hop é o nosso Quilombo, nosso ponto de resistência, daqueles que ainda acreditam que o conhecimento e a consciência valem mais que qualquer dinheiro no mundo, e que devem ser divididos entre todos. Não deixem que ele seja derrubado, vendido ou invadido. Consciência, respeito e atitude. Axé!

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Bob Marley & The Wailers - Survival

1. So Much Trouble In The World
2. Zimbabwe
3. Top Rankin'
4. Babylon System
5. Survival
6. Africa Unite
7. One Drop
8. Ride Natty Ride
9. Ambush In The Night
10. Wake Up And Live

Para baixar clique aqui.

Sei que todo mundo já deve ter escutado, mas como o papo hoje é Consciência negra tô postando esse clássico aí. Esse disco é o meu preferido do Bob, o mais político dele. Tive esse disco em vinil durante a adolecência e gastei a parada escutando. As letras são mesmo pra unir todos os africanos e rastas do mundo, como diz na Top Rankin: "Eles não querem nos ver unidos, tudo que querem que façamos é continuar lutando um contra o outro!". As imagens atrás do nome do disco são um desenho que mostra o jeito que os escravos era colocados nos porões do navio negreiro. Ampliem a imagem pra ver. De arrepiar a parada. Disco prefeito esse aí! Perfeito!

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Mestre Moraes e Mestre Jogo de Dentro

Mestre Moraes (amarelo e preto) e Mestre Jogo de Dentro (branco) num jogo que mostra o que é a capoeira Angola. Mestre Moraes é alundo de João Grande, que foi aluno do lendário Mestre Pastinha. Moraes é capoeirista e filósofo, e um cara que saca demais da cultura africana e que eu tive a oportunidade de ver falar num encontro de capoeira em Porto Alegre há uns oito anos. Moraes falou sobre a diferença da capoeira Angola ( a original, mais lenta e maliciosa ) e a Regional (criada por Mestre Bimba, mais rápida e explícita). A capoeira Angola trás o modo Africano de aprendizado, na roda o aluno vê o jogo e o reinterpreta do seu jeito, criando seu próprio jogo, achando seu próprio lugar na roda, esse modo de aprendizado se repete nas religiões e culturas africanas (e também nas rodas de bboys e de rimas). Já a capoeira Regional repete o modo europeu de aprendizado, um mestre a frente de dotos mostra o modo como algo deve ser feito e isso é aprendido através da repetição, o que cria um jogo mais padronizado e bem menos pessoal, pensem na parada como uma Igreja, o padre na frente dita as regras e é assim que elas devem ser, com bem pouco espaço pra variação ou criação. Eu vejo muita semelhança entre o rap e a capoeira, quando é aprendido em rodas de improviso, cria estilos originais, mas quando é aprendido pelas rádios, cria clones. Ambos são armas perigosas na mão de gente sem habilidade ou consciência, ambos são crús, mas poéticos, uma rasteira bem dada na hora certa e um verso certeiro tem mais força que um pontapé ou uma letra de 15 min.

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Racismo - Luis Fernando Veríssimo (14/5/1975)

- Escuta aqui, ó criolo...
- O que foi?
- Você andou dizendo por aí que no Brasil existe racismo.
- E não existe?
- Isso é negrice sua. E eu que sempre te considerei um negro de alma branca... É, não adianta. Negro quando não faz na entrada...
- Mas aqui existe racismo.
- Existe nada. Vocês têm toda a liberdade, têm tudo o que gostam. Têm carnaval, têm futebol, têm melancia... E emprego é o que não falta. Lá em casa, por exemplo, estão precisando de empregada. Pra ser lixeiro, pra abrir buraco, ninguém se habilita. Agora, pra uma cachacinha e um baile estão sempre prontos. Raça de
safados! E ainda se queixam!
- Eu insisto, aqui tem racismo.
- Então prova, Beiçola. Prova. Eu alguma vez te virei a cara? Naquela vez que te encontrei conversando com a minha irmã, não te pedi com toda a educação que não aparecesse mais na nossa rua? Hein, tição? Quem apanhou de toda a família foi a minha irmã. Vais dizer que nós temos preconceito contra branco?
- Não, mas...
- Eu expliquei lá em casa que você não fez por mal, que não tinha
confundido a menina com alguma empregadoza de cabelo ruim, não, que foi só um engano porque negro é burro mesmo. Fui teu amigão. Isso é racismo?
- Eu sei, mas...
- Onde é que está o racismo, então? Fala, Macaco.
- É que outro dia eu quis entrar de sócio num clube e não me deixaram.
- Bom, mas pera um pouquinho. Aí também já é demais. Vocês não têm clubes
de vocês? Vão querer entrar nos nossos também? Pera um pouquinho.
- Mas isso é racismo.
- Racismo coisa nenhuma! Racismo é quando a gente faz diferença entre as pessoas por causa da cor da pele, como nos Estados Unidos. É uma coisa completamente diferente. Nós estamos falando do crioléu começar a freqüentar clube de branco, assim sem mais nem menos. Nadar na mesma piscina e tudo.
Sim, mas...
- Não senhor. Eu, por acaso, quero entrar nos clubes de vocês? Deus me livre.
- Pois é, mas...
- Não, tem paciência. Eu não faço diferença entre negro e branco, pra mim é
tudo igual. Agora, eles lá e eu aqui. Quer dizer, há um limite.
- Pois então. O ...
- Você precisa aprender qual é o seu lugar, só isso.
- Mas...
- E digo mais. É por isso que não existe racismo no Brasil. Porque aqui o negro conhece o lugar dele.
- É, mas...
- E enquanto o negro conhecer o lugar dele, nunca vai haver racismo no Brasil. Está entendendo? Nunca. Aqui existe o diálogo.
- Sim, mas...
- E agora chega, você está ficando impertinente. Bate um samba aí que é isso
que tu faz bem.

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Versos do Post: "Nós nos recusamos a ser o que vcs querem que a gente seja, somos o que somos e é assim que vai ser Vocês não podem nos educar pra oportunidades desiguais, estou falando da minha liberdade e da liberdade do povo!"
"A Babilônia é um vampiro, sugando as crianças dia após dia... sugando o sangue dos sofredores, construindo Igrejas e universidades, matando o povo continuamente, graduando ladrões e assassinos. Contem a verdade às crianças agora!"

Bob Marley - Babylon Sistem

Um comentário:

Marco Aurélio disse...

No Dia Nacional da Consciência Negra gostaria aproveitar para denunciar o tipo de barbaridades que a Petrobrás tem incentivado. Já ouviu falar no “filme”

Manual Para Atropelar Cachorros

O protagonista deste “filme” de noite, para “relaxar”, atropela cachorros. Como a Petrobrás tem a covardia de patrocinar uma barbaridades dessas !? Mandei um e-mail de repúdio para a Petrobrás. Se puder faça o mesmo. Obrigado

Marco Aurélio